Integração de 35 anos da Acta Médica Portuguesa no OJS – Open Journal System

Autores

  • José Carvalho
  • Silvia C. Lopes Institute for Medicines Research (iMed.ULisboa), Faculdade de Farmácia, Universidade de Lisboa
  • Teresa M. Salgado Institute for Medicines Research (iMed.ULisboa), Faculdade de Farmácia, Universidade de Lisboa
  • Fernando Fernandez-Llimos Institute for Medicines Research (iMed.ULisboa), Faculdade de Farmácia, Universidade de Lisboa

Palavras-chave:

Visibilidade da Literatura Científica, Open Journal System, Acta Médica Portuguesa, Acesso Aberto

Resumo

Introdução

O Open Journal System (OJS) é um sistema electrónico, baseado na Internet, gratuito, sem custos de edição e gestão de revistas científicas. Desenvolvido pelo Public Knowledge Project, para ajudar a expandir e a melhorar o acesso aos resultados da investigação, apoia todas as fases do processo de publicação científica, desde a submissão, passando pela revisão por pares, até à publicação e indexação (1).

Um dos principais objectivos dos editores de periódicos científicos é a inclusão das suas revistas em fontes secundárias pois será a forma de ganharem visibilidade. O Português, como um dos seis idiomas mais falados em todo o mundo, é uma referência da literatura e da ciência. Apesar disso, a língua portuguesa não está suficientemente presente na literatura científica internacional já que o idioma Inglês é considerado a “língua franca da ciência”.

Consideram alguns investigadores que a utilização do Inglês permite acabar com as barreiras de comunicação e de acesso ao conhecimento bem como possibilitar a visibilidade dos resultados da investigação. Ainda assim, os periódicos científicos publicados pelos países que não estão na fronteira do desenvolvimento da ciência e não têm o Inglês como língua nacional não têm o prestígio de um periódico internacional. Esta falta de prestígio internacional impede a entrada no círculo de periódicos regularmente analisados pelos prestigiosos índices de citação das principais bases de dados internacionais (2).

Do trabalho desenvolvido com a Acta Médica Portuguesa, em 2007, percebe-se que a falta de indexação nas principais bases de dados internacionais não se deve a qualidade dos periódicos em Português. A partir desse estudo, cujos resultados recomendavam modificações ao nível do layout de forma a cumprir as normas de publicação internacionais, a Acta Médica Portuguesa tem desenvolvido esforços no sentido de entrar no circuito internacional passando a estar indexada no Science Citation Index (3) desde 2009, o que permitiu que as visitas tivessem aumentado cinco vezes em apenas cinco anos (4).

 

Objectivo:

Melhorar a visibilidade da Acta Médica Portuguesa através da disponibilização de todas as contribuições, em acesso aberto.

 

Método:

Dividiu-se o trabalho em duas etapas principais: Digitalização dos conteúdos e Importação dos metadados. Na primeira, recuperaram-se os originais impressos das revistas da Acta Médica Portuguesa (desde a sua criação em Dezembro de 1979). Cada revista foi desmanchada de forma a individualizar cada uma das contribuições. Estabeleceu-se um protocolo de colaboração entre a Acta Médica Portuguesa e a Direcção da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, com vista à digitalização de todos os conteúdos da revista. Foram utilizados os equipamentos Xerox WorkCentre 7435. A digitalização foi efectuada com o tamanho original e usando OCR (Optical Character Recognition) (5), tecnologia que reconhece caracteres a partir de uma imagem ou mapa de bits, obtendo um ficheiro PDF com texto editável, por cada contribuição.

A segunda etapa desenvolveu-se com base nos metadados existentes na PubMed, ao qual foram associados os documentos em formato PDF previamente digitalizados. Este processo desenvolveu-se ao longo de 4 fases principais:

  • Exportação dos dados da PubMed
  • Conversão para o modelo de dados da plataforma Open Journal System em consonância com o contexto da revista
  • Importação para a plataforma
  • Validação

A Exportação da PubMed foi baseada numa pesquisa por número, sendo essa metodologia aplicada a todos os momentos da importação, o que facilitou a sua validação e a identificação de erros. Após a pesquisa de cada número foi gerada uma exportação em XML. O documento gerado contém toda a descrição de metadados do número e respectivos artigos.

A conversão dos metadados consistiu na adaptação do formato produzido pela PubMed para o formato de importação do sistema Open Journal Systems (6). Para este processo foi desenvolvido um script que com base num transformador em XSLT cria um novo documento já adequado ao formato de importação do OJS.

A associação dos ficheiros PDF foi efectuada com a configuração de um endereço (URL) associado a cada artigo, tendo sido usado como elemento de mapeamento o número de páginas do respectivo artigo. Por exemplo, um trabalho com uma numeração de página “8-12” tinha como nome de ficheiro “8-12.pdf”. Desta forma a conversão criava de forma automática o endereço directo para cada artigo.

A importação para o Open Journal System foi desenvolvida com base no plugin XML de Artigos e Edições. Esta funcionalidade permite a importação de um ou vários artigos directamente através do interface web, bastando para isso usar a estrutura de importação do Open Journal System.

O processo de validação final não pode ser bem-sucedido sem antes, nos pontos anteriores, existirem alguns momentos de validação. No primeiro passo da exportação da PubMed são validados os números totais de documentos do número da revista. Na conversão de metadados são identificados os dados ou documentos em falta, assim como na importação para o OJS. A validação final baseou-se na verificação de alguns elementos como a data de publicação de cada número, a existência da capa do número, etc. Além disso, foi usado o validador disponibilizado pelo projecto RCAAP (http://validador.rcaap.pt) para verificar o cumprimento da revista com as directrizes DRIVER (7), tendo em vista a sua agregação no Portal RCAAP (http://www.rcaap.pt).

 

Resultados:

No início deste projecto, a Acta Médica Portuguesa tinha um Website convencional em HTML no qual disponibilizava o acesso aos conteúdos dos anos 2003 a 2012, com um total de 1018 artigos.

A importação dos conteúdos para o sistema OJS incluiu um total de 226 números da revista entre os anos 1979 e 2012, o que faz um total de 2.873 artigos, com 11.000 autorias por 6.321 autores diferentes. 2.227 destes artigos continham abstract com um total de 2.460.257 caracteres e 2.179 artigos apresentavam afiliação com um total de 169.139 caracteres, o que adicionados aos 190.652 caracteres dos títulos e aos 64.680 caracteres dos nomes dos autores fazem 2.884.728 caracteres de metadados importados para o sistema OJS. Estes valores permitem-nos ter uma ideia do volume de trabalho envolvido na importação dos dados.

Durante o primeiro ano de funcionamento do sistema OJS como plataforma de gestão de artigos, o ano 2013, foram publicados e inseridos no sistema e providenciado o LinkOut 147 artigos, o que resulta num total de 3020 artigos em acesso aberto, com um total de 11554 autorias por 6629 autores diferentes.

 

Conclusão:

A implementação do sistema de gestão editorial OJS na Acta Médica Portuguesa permitiu a disponibilização do arquivo histórico da revista da Ordem dos Médicos, constituindo-se o maior acervo histórico de uma revista biomédica em Portugal. A importação do volume de informação existente através de um processo automatizado, permitiu a realização deste trabalho de uma forma mais eficiente. Para além disso, o sistema OJS permite o actual funcionamento como sistema de gestão editorial da revista.

Referências

(1) PKP. Open Journal System. 2013 [cited 2014 Jan 14]; Available from: http://pkp.sfu.ca/ojs

(2) Mueller SPM. O círculo vicioso que prende os periódicos nacionais. DataGramaZero Revista de Ciência da Informação. 1999.

(3) Fernandez-Llimos F, Mendes A. Scientific production in international journals by Acta Médica Portuguesa authors. Acta médica portuguesa. 2010;23(4):561.

(4) Fernandez-Llimos F, Silva T. Assessing compliance of guidelines on layout in Acta Médica Portuguesa. Acta médica portuguesa. 2008;21(1):21.

(5) Pallavi, Saxena SK. Optical Character Recognition. VSRD Int J Comp Sci & Inf Technol, 2012;2 (4):305-315

(6) PKP. Importing and Exporting Data – PKP Wiki. 2012 [cited 2014 Jan 13]; Available from: http://pkp.sfu.ca/wiki/index.php/Importing_and_Exporting_Data

(7) Driver Project. Digital Repository Infrastructure Vision for European Research. 2010 [cited 2014 Jan 13]; Available from: http://www.driver-support.eu/index.html

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Publicado

2014-04-27