Uso do MeSH (Medical Subject Heading) ‘Portugal’ na produção indexada da Acta Médica Portuguesa

Autores

  • Silvia C. Lopes Institute for Medicines Research (iMed.ULisboa), Faculdade de Farmácia, Universidade de Lisboa Lisboa, Portugal
  • Pedro Faria Lopes Escola de Tecnologias e Arquitectura, Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), Lisboa, Portugal
  • Fernando Fernandez-Llimos Institute for Medicines Research (iMed.ULisboa), Faculdade de Farmácia, Universidade de Lisboa Lisboa, Portugal

Palavras-chave:

MeSH, Visibilidade da Literatura Científica, Acta Médica Portuguesa

Resumo

Introdução

O MeSH é o thesaurus médico de vocabulário controlado da National Library of Medicine dos EUA. Consiste num conjunto de termos, designados por descritores, organizados numa estrutura hierárquica (MeSH Tree) que permite pesquisar com diversos níveis de especificidade (1).

A atribuição de MeSH é feita pelos bibliotecários da National Library of Medicine dos EUA, responsáveis pela catalogação, seguindo um conjunto de normas pré-definidas (2-3), através da análise objectiva dos conteúdos dos trabalhos. Para descrever o conteúdo temático de um artigo, são usados os termos MeSH mais específicos disponíveis.

A utilização de MeSH nas pesquisas bibliográficas melhora a efectividade das pesquisas na medida em que reduz o número de registos irrelevantes recuperados (4). Paralelamente, o uso apropriado do MeSH foi identificado como um dos 5 elementos críticos no desenvolvimento de uma pesquisa eficiente na Medline (5), o que pode contribuir para a melhoria da visibilidade da produção científica.

Dentro destes termos MeSH, estão os termos MeSH geográficos (Z – Geographic Locations, da estrutura hierárquica do MeSH) (1). Estes são atribuídos quando o âmbito do trabalho ou estudo é limitado ou circunscrito a uma determinada área geográfica e é significativo para o tema do trabalho desenvolvido. Estes termos geográficos podem ser combinados com qualquer outro termo MeSH.

 

Objectivo:

Analisar a idoneidade da utilização do MeSH ‘Portugal’ nos artigos da Acta Médica Portuguesa indexados na Medline.

 

Método:

Em Agosto 2013, exportaram-se todos os registos de contribuições publicadas na Acta Médica Portuguesa (desde a sua criação, em 1979, até Dezembro de 2012) que se encontram indexados na Medline, mediante o uso do EndNote x4 (Thomsom Reuters, New York, NY) por acesso telemático HTTP-based à PubMed (National Library of Medicine, Bethesda MD).

Para identificar potenciais artigos onde poderia ter sido utilizado o MeSH ‘Portugal’, realizaram-se pesquisas, nesse ficheiro do EndNote, pelas seguintes palavras:

  • Portugal: incluiu-se sempre
  • Portuguese: apenas quando era o adjectivo relativo ou pertencente a Portugal
  • National: apenas quando era utilizado como adjectivo relativo a nação portuguesa
  • Porto: quando se referia à cidade ou à Área Metropolitana do Porto
  • Lisbo*: quando se referia à cidade ou à Área Metropolitana de Lisboa

Quando aparecia algum destes termos, identificou-se o campo onde os mesmos ocorriam: título, abstract, MeSH (registando se estava classificado como Major MeSH), ou afiliação do primeiro autor.

Criou-se uma base de dados em Access 2010 (Microsoft Corporation, Redmond, WA) e os dados foram analisados com o SPSS v16 (SPSS, inc, Chicago IL).

 

Resultados:

A Acta Médica Portuguesa tem, à data do estudo, 2873 registos indexados na Medline, correspondentes a contribuições publicadas nos 198 números editados desde o ano 1979 até Dezembro de 2012, resultando uma média de 14,5 (DP=6,8) contribuições por número e uma média de 89,8 (DP=48,1) contribuições por ano. Dessas 2873 contribuições, 2669 (92,9%) foram publicadas em língua portuguesa.

No momento da exportação dos dados, havia 6 números, com um total de 75 contribuições, nas quais a NLM ainda não tinha atribuído os termos MeSH. Os restantes 2798 artigos foram indexados com uma média de 8,1 (DP=3,7) MeSH por artigo. Relativamente ao número de MeSH por artigo, encontraram-se 5 artigos com apenas um MeSH, 66 com 2 MeSH e, no extremo oposto, um com 38 e outro com 37. O número de MeSH por artigo não apresentou grandes variações ao longo dos anos, sendo o máximo de 9,4 (DP=4,3) nos 148 artigos do ano 1997 e o mínimo de 6,7 (DP=3,0) nos 27 artigos do ano 2012.

Dos 22700 MeSH atribuídos a artigos da Acta Médica Portuguesa, apenas 1826 (8,0%) foram indicados como Major MeSH pela NLM. Nos 2798 artigos que tinham MeSH atribuído, a média de Major MeSH indicados pela NLM foi de 0,65 (DP=0,87) por artigo, com um máximo de 5 num artigo que tinha um total de 14 MeSH, e com 1535 (54,9%) artigos que não tinham indicado nenhum Major MeSH.

O MeSH ‘Portugal’ aparece em 492 artigos (17,6% dos 2798 que tem MeSH atribuído), e nunca aparece indicado como Major MeSH.

Dos 196 artigos publicados na Acta Médica Portuguesa contendo, no título, uma das palavras procuradas (que identificam como produção focada em Portugal), em 17 (8,7%) não foi atribuído o MeSH ‘Portugal’. Dos 2602 artigos que não contêm as palavras procuradas no título, em 313 (12,0%) foi atribuído o MeSH ‘Portugal’. Portanto, se fosse utilizado o facto de conter uma dessas palavras no título como gold-standard, a atribuição de MeSH ‘Portugal’ teria uma especificidade de 88,0% e uma sensibilidade de 91,3%.

Dos 431 artigos publicados na Acta Médica Portuguesa contendo, no abstract, uma das palavras procuradas (que identificam como produção focada em Portugal), em 196 (45,5%) não foi atribuído o MeSH ‘Portugal’. Dos 1733 artigos que não contêm as palavras procuradas no abstract, em 154 (8,9%) foi atribuído o MeSH ‘Portugal’. Portanto, se fosse utilizado o facto de conter uma dessas palavras no abstract como gold-standard, a atribuição de MeSH ‘Portugal’ teria uma especificidade do 91,1% e uma sensibilidade do 54,5%.

Dos 457 artigos publicados na Acta Médica Portuguesa contendo uma das palavras procuradas (que identificam como produção focada em Portugal) no título ou no abstract, em 201 (44,0%) não foi atribuído o MeSH ‘Portugal’. Dos 1707 artigos que não contêm as palavras procuradas no título ou no abstract, em 133 (7,8%) foi atribuído o MeSH ‘Portugal’. Portanto, se fosse utilizado o facto de conter uma dessas palavras no título ou no abstract como gold-standard, a atribuição de MeSH ‘Portugal’ teria uma especificidade do 92,2% e uma sensibilidade do 56,0%.

 

Conclusão:

A atribuição do MeSH ‘Portugal’ actualmente realizada pela NLM, parece estar mais associada aos títulos dos artigos que ao conteúdo dos abstracts, uma vez que mostra uma sensibilidade muito maior (91%) quando considerado o título como padrão do que quando considerado o abstract (54%).

Com vista ao aumento da visibilidade da produção no geral, este facto reforça mais uma vez a necessidade da utilização de títulos declarativos (não figurativos) e suficientemente descritivos do conteúdo do artigo. Com vista ao aumento da visibilidade da literatura biomédica portuguesa, deveria considerar-se a utilização de topónimos que identifiquem o âmbito do estudo.

Referências

(1) Boehr D, Bushman B, Willis S. MeSH® Cataloguing Course: Using Medical Subject Headings (MeSH®) in Cataloging. 2010 [cited 2014 Jan 12]; Available from: http://www.nlm.nih.gov/tsd/cataloging/trainingcourses/mesh/index.html

(2) NLM. Use of Medical Subject Headings For Cataloging – 2014. 2013 [cited 2014 Jan 12]; Available from http://www.nlm.nih.gov/mesh/catpractices.html

(3) NLM. NLM Policy on Subject Analysis and Classification. 2012 [cited 2014 Jan 12]; Available from http://www.nlm.nih.gov/tsd/cataloging/subjclasspolicy.html

(4) Jenuwine ES, Floyd JA. Comparison of Medical Subject Headings and text-word searches in MEDLINE to retrieve studies on sleep in healthy individuals. J Med Libr Assoc. 2004;92(3):349-53.

(5) Rana GK, Bradley DR, Hamstra SJ, Ross PT, Schumacher RE, Frohna JG, Haftel HM, Lypson ML. A validated search assessment tool: assessing practice-based learning and improvement in a residency program. J Med Libr Assoc. 2011;99(1):77-81.

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Publicado

2014-04-27